Desde a mais remota antiguidade, os sonhos – suas imagens e os sentimentos e emoções que elas evocam – despertam em nós uma espécie de reverência e uma curiosidade que nos impulsionam em busca de seu significado. O fato de sonharmos, ou como James Hillman prefere dizer, de sermos sonhados, mostra a força do sonho: ele nos envolve e praticamente exige uma explicação.
O interesse pelos sonhos era evidente na Grécia antiga, época em que eram considerados verdadeiros oráculos, especialmente na esfera da ação dos sonhos sobre a doença e sua cura. Haviam santuários que se dedicavam à incubação de sonhos. O paciente era introduzido em um recinto sagrado e, após passar por rituais de purificação, era colocado para dormir na espera do sonho certo, ou seja, o sonho que traria a cura. Sonhar com o deus Esculápio significava ter recebido sua visita e, portanto, receber a cura.
No contexto religioso, quer no ocidente ou no oriente, vigorou a ideia de que o sonho possuía uma mensagem que podia ser desvendada por um profeta. Os textos bíblicos, especialmente o antigo testamento, estão repletos de relatos de sonhos e de suas explicações, por exemplo os sonhos de Nabucodonossor ou do Faraó. Os sonhos também eram muito valorizados na civilização islâmica, sendo usados em busca de orientação sobre a realidade objetiva com base nas passagens do Alcorão.
A psicologia e a psicanálise apontam a importância dos sonhos para a psique. Tanto Freud quanto Jung, e seus seguidores, apresentam propostas para um trabalho com os sonhos envolvendo sua interpretação. Também a neurociências se ocupa em compreender e explicar o mecanismo que está por trás do sonhar.
Muitos filmes de ficção abordam o tema do sonho. Em “Matrix”, é apresentada a ideia de que o “mundo real” é o mundo dos sonhos e não o mundo da vigília. No filme “A origem”, um homem e uma mulher se infiltram na mente de um homem através de seus sonhos, com o objetivo de alterar suas memórias e livrá-lo de uma culpa.
Mas o que são os sonhos? Como eles “são construídos”? O que eles querem de nós? Qual é o significado dos sonhos? O que podemos fazer com eles e, principalmente, o que eles fazem conosco? Qual é a relação, se é que ela existe, entre os sonhos e o mundo da vigília?
Muitas outras perguntas podem ser elaboradas quando nos deparamos com este tema que desde tempos muito remotos intriga a humanidade. Afinal, todos nós dormimos, e ao dormir ficamos diante da porta que nos conduz ao reino dos sonhos.
Ilustração: Célia Barros
Denise B. P. Jorge. Psicóloga e Analista Junguiana.
Mestre e Doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP.
Referências
Callois, Roger; Grunebaum, G.E. Von (Org.). O sonho e as sociedade humanas. Rio de Janeiro: F. Alves, 1978.
Hillman, James. O sonho e o mundo das trevas. Petrópolis: Vozes, 2013
コメント